Quer trabalhar menos? Pergunte-me como

Por Adriano Silva

A regra é essa. É bem simples de falar. E bem complicado de fazer. Mas eu sei por experiência: ela funciona. Só contrate quem for melhor que você. E, pelo amor do bom deus, deixe-os trabalhar. Não fique competindo com seus subordinados. Não fique puxando o freio de mão das Ferraris que você por ventura colocar na sua garagem. Ao contrário, estimule-as a sair para a rua todo dia, e roncar seus motores nas tantas highways que estão por aí, mercado afora, pedindo para serem desbravadas por carros potentes. Da próxima vez que você se pegar reclamando da carga de trabalho, de que não tem tempo para nada, de que tudo depende de você, de que você está sendo demandado em excesso, de que está sem tempo para si mesmo e para a família, lembre de se iniciar na fina arte da delegação. E não se esqueça que só é possível delegar com sucesso quando você investiu antes em se cercar de gente mais talentosa e mais competente que você. Brife-os corretamente, estabeleça metas arrojadas, cobre os resultados, premie o êxito do time… e vá pescar!
Tem uma história ótima envolvendo o Victor Civita, o lendário fundador da Editora Abril. Segundo ouvi contar nos meus anos de Abril, logo na virada para os anos 70, bem no iniciozinho de Veja, um dia o velho VC passeava pelos corredores da empresa com um visitante. Até que cruzou pela porta da redação da revista. Que tinha gente da pesada: Mino Carta, José Roberto Guzzo, Elio Gaspari, enfim, alguns dos melhores jornalistas – e revisteiros – que já atuaram no Brasil se amontoavam lá dentro. VC bateu no ombro do visitante e disse: “está vendo toda essa gente brilhante reunida aí dentro? Eles trabalham para mim.” Esse é o patrão mais sábio do mundo. Soube contratar os melhores. E deixou os melhores trabalhar.

Nada pior do que ter que fazer o trabalho do seu subordinado. Por não confiar nele. Ou por sabê-lo incompetente. Nada pior, também, do que não precisar fazer o trabalho do seu subordinado e fazê-lo só porque você é inseguro, ansioso e centralizador. Já escrevi isso algumas vezes e gostaria de repetir aqui: mil vezes trabalhar com gente que você tem que frear do que com gente que você tem de empurrar. Mil vezes ter que colocar um cabresto no cara de vez em quando do que ter de ficar injetando isotônicos e energéticos na veia dele a toda hora.
Na maioria dos casos, o sujeito que contrata gente pior do que ele gosta de se cercar de gente ruim para se sentir engrandecido na comparação. É mais confortável no curto prazo, dá uma sensação boa que você é de fato o rei do pedaço, populando esse pedaço com profissionais medianos ou medíocres. No longo prazo, no entanto, esse é o caminho que leva ao cemitério de carreiras e de negócios. Não é fácil trabalhar com gente melhor do que você. Dá trabalho. Mas pelo menos o trabalho, nesse caso, é apenas o de administrar os caras. E alguma impaciência que eles tenham com você, aqui e ali. O que é muito menos trabalho do que jogar num time de perebas que você mesmo convocou.